Acordo prevê fornecimento de gás natural a preços competitivos, mesmo com divergências entre os governos.
O governo brasileiro firmou um acordo com a Argentina para a importação de gás natural proveniente da jazida de Vaca Muerta, apesar das tensões ideológicas evidentes durante a cúpula do G20, no Rio de Janeiro. O pacto foi apresentado pelos ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Agricultura, Carlos Fávaro, como um marco de pragmatismo econômico, ignorando divergências políticas entre os países.
Durante o encontro, o presidente argentino Javier Milei, conhecido por suas críticas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, se opôs a pontos centrais da presidência brasileira no G20, como igualdade de gênero, objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) e taxação dos super-ricos. Ainda assim, Silveira enfatizou a importância do acordo comercial, declarando: “Temos que separar questão comercial de ideologia”.
Detalhes do acordo de gás
A partir de 2025, o Brasil começará a importar 3 milhões de metros cúbicos de gás por dia da Argentina, com a expectativa de alcançar 30 milhões de metros cúbicos diários até 2030. O gás será ofertado a preços mais baixos que os praticados internamente, com valores estimados entre US$ 7 e US$ 8 por milhão de BTUs, comparados aos US$ 14 do mercado brasileiro.
A jazida de Vaca Muerta, na Argentina, apresenta custos iniciais competitivos, com o gás sendo extraído a US$ 2 por milhão de BTUs. Este fornecimento pode impulsionar a produção de fertilizantes no Brasil, o que Silveira destacou como estratégico: “O aumento da oferta a preços competitivos é importante para incentivar a produção de fertilizantes no Brasil, um dos maiores importadores do mundo”.
Rotas e infraestrutura necessárias
Para viabilizar a entrega, quatro rotas estão sendo estudadas, incluindo opções pelo Uruguai, Paraguai, um terminal de gás liquefeito na Argentina e a reversão de fluxo no gasoduto Bolívia-Brasil. A última alternativa é considerada a mais rápida e viável, utilizando a infraestrutura existente de um gasoduto de três décadas.
Projetos complementares, como a ligação de Uruguaiana a Porto Alegre, enfrentam desafios devido à necessidade de construção de 600 km de dutos e altos custos estimados em R$ 4,6 bilhões. Enquanto isso, a ambição de levar o gás argentino ao Sudeste brasileiro ainda parece distante, já que a região é abastecida pelo gás do pré-sal.
Impactos ambientais e oposição
A exploração de gás de xisto em Vaca Muerta enfrenta críticas de ambientalistas devido aos métodos de extração, que utilizam grandes volumes de água sob alta pressão. Esse processo já provocou contaminação de lençóis freáticos e abalos sísmicos em outros países, como Estados Unidos e China. Na Argentina, comunidades indígenas relatam prejuízos significativos.