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Cidade de Araxá a capital do Nióbio matéria prima que desperta interesse das grande potências

Written by adminab
CBMM controla 80% da oferta mundial e prevê encerrar 2019 com produção recorde. Brasil detém mais de 90% das reservas conhecidas em atividade, mas há jazidas em várias regiões do mundo e mercado ainda é bem limitado.

O Brasil não é o único país com reservas de nióbio. Mas é disparado o maior produtor, com 90% do mercado mundial desse metal cuja demanda é pequena, mas inclui uma série de aplicações, inclusive na indústria de alta tecnologia. Mas, afinal, para que serve e como é explorado esse mineral tão abundante no Brasil, e que tem despertado cada vez mais curiosidade, teorias conspiratórias e mitos sobre sua importância para a economia?

O nióbio produzido em Araxá é exportado atualmente para mais de 50 países e tem como maior destino as empresas siderúrgicas. Ele é usado principalmente na produção de aços especiais e superligas. O metal funciona como um ‘melhorador’. Bastam 400 gramas por tonelada para produzir aços mais leves e resistentes.

O nióbio é empregado atualmente em automóveis, turbinas de avião, gasodutos, navios, aparelhos de ressonância magnética, aceleradores de partículas, lentes e até piercings e bijuterias.

O metal é vendido, sobretudo, na forma da liga ferronióbio (com cerca de dois terços de teor de nióbio e um terço de ferro), obtida a partir de diversas etapas de processamento.

 — Foto: Infografia: Juliane Souza/G1

— Foto: Infografia: Juliane Souza/G1

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Metal nobre, mas não escasso

O presidente Jair Bolsonaro já citou o nióbio para falar do potencial mineral do Brasil. Durante viagem ao Japão no meio do ano, ele chegou a gravar um vídeo mostrando uma correntinha e talheres de nióbio. A divulgação feita pelo presidente tem ajudado o metal a ganhar fama, mas o mercado ainda é bastante limitado.

Em 2016, quando ainda era deputado federal, Bolsonaro gravou um vídeo após uma visita à CBMM dizendo que o Brasil poderia ter algum dia um “Vale do Nióbio”, em um paralelo com a rica região tecnológica do Vale do Silício, nos EUA. “Fala-se muito em Vale do Silício no mundo, né? No caso, fica nos Estados Unidos. E eu sonho, quem sabe um dia, termos também o Vale do Nióbio”, disse.

Embora seja um metal nobre e com diversas aplicações, a importância do nióbio costuma ser supervalorizada. Um dos primeiros a alimentarem mitos em torno da “jabuticaba” dos metais foi o deputado federal Enéas Carneiro, morto em 2007, que alardeava que só os recursos gerados pelo mineral seriam suficientes para lastrear toda a riqueza do país.

Sacas de nióbio empilhadas em depósito da CBMM em Araxá (MG) — Foto: Fábio Tito/G1

Sacas de nióbio empilhadas em depósito da CBMM em Araxá (MG) — Foto: Fábio Tito/G1

O nióbio tem uma série de vantagens comparativas, mas não se trata de um produto escasso na natureza – apenas pouco explorado. Além disso, possui concorrentes equivalentes, como o vanádio, o tântalo e o titânio. Ou seja, não é insubstituível e a sua importância não se compara às do ouro, minério de ferro ou petróleo, por exemplo.

As exportações brasileiras de produtos associados ao nióbio movimentam por ano cerca de R$ 2 bilhões, menos de 10% do valor movimentado pelo minério de ferro, e representam menos de 5% das vendas de substâncias metálicas para o exterior, segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM).

Principais metais exportados pelo Brasil — Foto: Economia G1

Principais metais exportados pelo Brasil — Foto: Economia G1

O preço do ferronióbio tem se mantido relativamente estável nos últimos anos e atualmente o quilo do metal é vendido por cerca de US$ 40. Ou seja, 1 quilo de nióbio é mais barato que 1 grama de ouro, que atualmente está cotado abaixo de US$ 50.

“O nióbio não é raro. Raro é o mercado de nióbio. Então, nosso desafio constante é criar novos usos e aplicações”, resume Leonardo Silva, gerente de projetos da CBMM.

Exploração de nióbio na mina de Araxá é toda feita a céu aberto, sem uso de explosivos; apenas com escavadeiras — Foto: Fábio Tito/G1

Exploração de nióbio na mina de Araxá é toda feita a céu aberto, sem uso de explosivos; apenas com escavadeiras — Foto: Fábio Tito/G1

Onde mais tem nióbio?

Segundo dados da ANM, o Brasil detém atualmente 95% das reservas de nióbio com produção. Canadá e Austrália são os outros dois países que participam do mercado global.

Levantamento do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) mostra, porém, que existem 85 jazidas quantificados no mundo, incluindo Canadá , Austrália, Rússia, Estados Unidos e diversos países da África.

No Brasil, além das reservas de Araxá, há produção de nióbio em Goiás e em pequenas quantidades no Amazonas e em Rondônia, além de reservas não exploradas em áreas indígenas.

Fluxo de caminhões é intenso na retirada do solo rico em nióbio na mina de Araxá (MG) — Foto: Fábio Tito/G1

Fluxo de caminhões é intenso na retirada do solo rico em nióbio na mina de Araxá (MG) — Foto: Fábio Tito/G1

“Como hoje os 3 principais produtores de nióbio têm uma capacidade produtiva maior do que o tamanho do mercado, isso limita a entrada em operação de novas reservas de nióbio”, afirma Eduardo Ribeiro, presidente da CBMM.

Só em Araxá, as reservas são estimadas em mais de 800 milhões de toneladas de minério, volume suficiente para garantir ainda mais de 100 anos de produção, mantida a atual demanda. Mas se forem considerados os depósitos minerários em rochas subterrâneas, a capacidade de exploração é estimada em mais de 400 anos.

E o negócio tem se mostrado bastante lucrativo para a CBMM. Em 2018, o faturamento da empresa cresceu 55% e chegou a R$ 7,4 bilhões. O lucro em 2018 foi de R$ 2,7 bilhões, o que garantiu aos 2.000 funcionários um bônus de 6 salários extras adicionais no ano.

Para cada 1 tonelada de minério extraída em Araxá, são produzidos 15 kg de ferronióbio. São necessárias várias etapas para se chegar aos produtos finais, incluindo concentração, refino e metalurgia — Foto: Fábio Tito/G1

Para cada 1 tonelada de minério extraída em Araxá, são produzidos 15 kg de ferronióbio. São necessárias várias etapas para se chegar aos produtos finais, incluindo concentração, refino e metalurgia — Foto: Fábio Tito/G1

Quem são os donos das jazidas de Araxá?

A CBMM foi criada em 1955 e desde a década 1965 tem como acionista majoritário a família Moreira Salles, que também é sócia do Itaú Unibanco.

Embora praticamente tenha criado o mercado mundial de nióbio, a companhia ganhou os holofotes em 2010, quando um grupo de empresas chinesas, japonesas e sul coreana fechou a compra de uma fatia de 30% da empresa por US$ 4 bilhões, avaliando o valor de mercado da CBMM em mais de US$ 13 bilhões.

Forno em temperatura altíssima (que atinge 2.700° C) é usado para produzir o nióbio em seu estado mais puro — Foto: Fábio Tito/G1

Forno em temperatura altíssima (que atinge 2.700° C) é usado para produzir o nióbio em seu estado mais puro — Foto: Fábio Tito/G1

Apesar de a CBMM ser a única empresa a explorar o nióbio em Araxá, o estado de Minas Gerais é dono de parte da mina e recebe uma parcela dos lucros da produção de nióbio. Pelo acordo em vigor, com validade até 2032, o governo estadual recebe 25% do lucro líquido das vendas da CBMM através da estatal Codemig. Em 2018, recebeu R$ 900 milhões.

Com dificuldades de caixa, o governo do Minas Gerais já anunciou que pretende privatizar a Codemig e conseguiu aprovar neste mês de dezembro um projeto de lei que autoriza a vender créditos da comercialização do nióbio entre 2020 e 2032, de forma a antecipar a arrecadação com os direitos de exploração do nióbio para garantir o pagamento do 13º dos servidores e pôr fim ao parcelamento dos salários do funcionalismo por alguns meses.

Questionada sobre o interesse na eventual privatização da Codemig, a CBMM desconversa, mas descarta qualquer revisão dos termos do contrato vigente da parceria com o governo estadual. “Essa é uma questão que tem que ser analisada mais perto de 2032, que é quando termina o atual contrato”, disse em entrevista ao G1 o presidente da CBMM, Eduardo Ribeiro.

Complexo de mineração e metalurgia da CBMM, em Araxá (MG) — Foto: Divulgação/CBMM

Complexo de mineração e metalurgia da CBMM, em Araxá (MG) — Foto: Divulgação/CBMM


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