Fantástico teve acesso exclusivo aos locais e analisou os cerca de 70 contratos emergenciais assinados pela Secretaria de Saúde, em ações que podem levar ao impeachment de Wilson Witzel.
Por quase dois meses, o Fantástico analisou todos os cerca de 70 contratos assinados pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro com base na chamada “Lei Covid”, que autorizou o poder público a fazer compras emergenciais sem licitação durante a pandemia.
A equipe de reportagem também teve acesso, com exclusividade, a galpões que armazenam produtos de uma engrenagem de desvio de dinheiro público, segundo uma investigação do Ministério Público estadual do Rio de Janeiro.
São respiradores superfaturados e que não funcionam; milhares de testes de Covid reprovados, que não prestam para nada, mas custaram o dobro do preço de mercado; macas tão frágeis que quebraram com o peso dos pacientes; e produtos comprados sem necessidade e que podem perder a validade por falta de uso.
Além do prejuízo já causado aos cofres públicos, o estado continua gastando só para armazenar os produtos: desde agosto de 2020, os custos são de R$ 1 milhão ao mês.
A corrupção também é vista no desperdício. Na Coordenação Geral de Armazenagem da Saúde, em Niterói, na Região Metropolitana, ficam guardados todos os insumos comprados pelo governo antes de serem levados para hospitais e postos de saúde.
Mais de 300 toneladas de equipamentos estão no local, vencidos e indisponíveis para a população. Tudo será incinerado. Como a medicação não pode ser tratada como lixo comum, a incineração vai custar aos cofres públicos mais de R$ 3 milhões.
Na mesma coordenação de armazenagem, 40 mil máscaras estão depositadas. O Governo do Estado comprou o material, que é feito de papel e não serve para proteger contra a Covid-19.
Desde 2007, diferentes esquemas de corrupção na Saúde do Rio desviaram mais de R$ 1,7 bilhão dos cofres do Estado.
Hospitais: símbolos da corrupção
Os hospitais de campanha representam o maior gasto do estado do durante a pandemia: o contrato de R$ 835,7 milhões assinado com a Organização Social Iabas previa a abertura das unidades no estado com 1,4 mil leitos que atenderiam apenas pacientes com Covid-19.
Dos sete anunciados pelo governador Wilson Witzel, apenas dois foram construídos: no Maracanã e em São Gonçalo.
Witzel foi afastado do cargo pelo Superior Tribunal de Justiça e aguarda hoje seu processo de impeachment ser concluído em um Tribunal Especial Misto.