Grupo Assim Saúde pagou em troca de contrato de R$ 210 milhões para fornecer planos a servidores, diz investigação. Denúncia aponta que pagamento foi negociado por Rafael Alves, suposto operador de esquema de corrupção ao lado de Crivella.
O “QG da Propina” que funcionava na Prefeitura do Rio recebia R$ 1,5 milhão por mês da empresa Assim Saúde para intermediar o fornecimento de planos de saúde a servidores municipais, afirma o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
A informação foi exibida neste domingo (13) no Fantástico, que revelou mensagens e documentos inéditos da investigação.
Segundo o inquérito, que apura a existência de um suposto esquema de corrupção no governo municipal, o pagamento foi negociado pelo empresário Rafael Alves, irmão do ex-presidente da Riotur Marcelo Alves.
A propina, segundo o MP, era paga em troca de um contrato de R$ 210 milhões para fornecimento de planos de saúde a funcionários da Prefeitura.
Os investigadores afirmam que a negociação foi feita em uma sala ao lado da presidência da Riotur, na Cidade das Artes, Zona Oeste do Rio, onde Rafael Alves despachava mesmo sem ter cargo no governo municipal.
O acordo, segundo o MP, foi fechado com o empresário Azziz Chidid Neto, presidente do Conselho de Administração do Grupo Assim Saúde.
Segundo a investigação, Alves se encontrava regularmente com o doleiro Sérgio Mizrahy no “QG da Propina” para dividir o dinheiro recebido irregularmente dessa e de outras empresas.
O MP afirma que eles usavam a Riotur para fazer contratos superfaturados, sem licitação, em troca de propina.
A investigação
O Ministério Público analisou mais de dez mil mensagens de celular entre Crivella e um grupo de colaboradores que, segundo a acusação, mantinham o chamado “QG da Propina”.
As conversas sugerem que esse grupo tinha carta branca para extorquir dinheiro de empresários. e não tinha pudor em colocar o próprio prefeito contra a parede, com ordens e até ameaças.
A investigação mostra que Crivella e Rafael Alves são muito próximos. Marcavam reuniões de madrugada ou caminhadas bem cedo.
Segundo os investigadores, a ascendência de Rafael sobre o prefeito Crivella chega ao ponto de ele exigir, incisivamente, ser ouvido, antes da tomada de qualquer decisão. E se irritava quando tinha interesses contrariados, como aconteceu em abril de 2019, quando o prefeito mexeu na estrutura da Riotur.
Rafael escreveu revoltado: “Colocar a Riotur subordinada à Secretaria de Turismo é covardia, desvalorizando Marcelo e não honrando o que foi combinado lá atrás. Bela atitude, fala uma coisa e faz outra. Eu não aceito isso, a Riotur tem que ficar subordinada ao gabinete do prefeito. Esse ato tem que ser publicado amanhã no Diário Oficial, senão a conversa vai mudar de tom”.
Rafael se apresenta em mensagens de texto como “homem-bomba”. Em uma delas, o empresário escreve para aliados: “O governo dele explode junto com a minha paciência.”
É para o “homem-bomba” que Crivella mandou essa mensagem: “Claro que eu te escuto meu amigo. Lembra que lá atrás você me disse que queria que o seu irmão fosse presidente da Riotur. Foi a primeira ação que fiz. Antes de qualquer secretário”.
O que dizem os citados
A Prefeitura do Rio refutou as acusações do Ministério Público sobre as negociações com o Grupo Assim Saúde. Em nota, disse que o processo de contratação do plano de saúde dos servidores foi aberto a todas as operadoras e que a Assim Saúde foi a única a apresentar proposta.
O Grupo Assim Saúde não comentou a acusação de que teria pago propina em troca do contrato. Em nota, afirmou que tem contrato com a Prefeitura do Rio há 16 anos, atendendo mais de 100 mil pessoas, e que vem tentando junto à prefeitura equilibrar economicamente o contrato diante do aumento dos custos de operação.
“Uma apuração mais detalhada por parte do Ministério Público poderá encontrar essas evidências em nossa relação com a Prefeitura do Rio de Janeiro. E é o que esperamos e desejamos que aconteça”, afirmou o grupo.
O advogado do empresário Rafael Alves disse que as acusações contra ele são precipitadas e não têm compromisso com a verdade. Disse também que o Ministério Público interpretou as mensagens encontradas no celular de Rafael de forma “malévola” e “enviesada”.